quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Água e Fé

O DRAMA DA FALTA D’ÁGUA EM ITU SOB UM OLHAR PROVIDENCIAL
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A Seca , a Fé e a Chuva


Marcos Luiz Garcia



A Folha online publicou, no dia 8 de fevereiro último, a notícia trágica de que a tentativa de fazer chover na região do sistema Cantareira fracassou e a estiagem continua terrível!
(Ao lado foto de reservatório de água em Itu-SP)
Comentando o fato com um amigo de Minas Gerais, ele recordou que, em tempos idos, o clero promovia procissões que saíam da igreja matriz rumo a um Cruzeiro da cidade para pedir a Deus que enviasse chuva. Muitas crianças ainda inocentes seguiam a procissão portando garrafinhas d’água. Ao chegarem, elas eram orientadas a derramar a água junto aos pés da grande Cruz. E a chuva não tardaria.
Outro mineiro, que costuma fazer a revisão de meus artigos, acrescentou ter ele mesmo, juntamente com dois irmãos, também quando crianças, conduzido em procissão pela mãe levando um pequeno recipiente com água da porta da casa da fazenda onde vivia até o Cruzeiro que ficava sobranceiro sobre um monte. Ali, após algumas orações, fazia-se a Deus o pedido da chuva ao mesmo tempo em que os inocentes derramavam a água aos pés Cruz. Segundo ele, isso ocorreu há mais de 60 anos, e, naquele mesmo dia, à noite, a chuva caiu abundante.
Ao longo de minha vida ouvi contar muitos fatos semelhantes. Para mim, nada mais natural, pois a Igreja é detentora do poder espiritual e, portanto, capaz de mover o sobrenatural. O pedido oficial da Igreja é propício a Deus, a Nossa Senhora, aos anjos e aos santos para tudo de justo, razoável e bom.
Infelizmente, nos dias que correm não se percebe mais fé entre as pessoas, como também e, sobretudo, em larguíssima parcela do clero. Para não falar de nossos governantes mais inclinados a promover uma pajelança ou “dança da chuva” que rezar ou promover uma procissão.
Como seria edificante e eficaz a convocação feita por um Cardeal e Bispos seguidos do clero aos fiéis para a realização de um ato religioso a fim de implorar a Deus misericórdia pelos pecados, prometendo antes sincera conversão e, com tal disposição, rogar a Deus que chova o quanto antes. Com certeza, o povo atenderia em grande medida tal iniciativa.
Resta saber se o clero, muito mais engajado em assuntos como invasões de terra e de imóveis urbanos, levante de índios e negros contra brancos, arengando sempre contra o direito de propriedade, jogando pobres contra ricos, atores sentimentais que vivem promovendo festas, pois entendem eles hoje que “Jesus quer nos fazer felizes”. Aliás, felicidade essa com significado de mero prazer e que tudo justifica. Os Mandamentos não são mais levados em conta, espalhando a vivência de que tudo corre normalmente, Deus não está desagradado com as faltas de seus filhos.
Nem todos os sacerdotes procedem assim, e há verdadeiros heróis que cumprem seu dever. Infelizmente, por isso mesmo, sofrem perseguição atroz de seus pares ou mesmo até de superiores…
A verdade é que voltar-se para Deus, prometer emenda de vida e implorar misericórdia quase ninguém quer fazer.

Faço duas perguntas, a propósito da chuva:
E se Deus não permitir que chova até que os homens se voltem para Ele, como aconteceu no tempo de Elias profeta?
Mas creio isso está fora de cogitação do homem de hoje.

E se, por um prodígio de paciência, Deus permitir que chova, aguardando ainda mais pela conversão do homem, ele seguirá como se Deus não existisse, pensando exclusivamente em si? O grande Santo Agostinho tinha razão ao afirmar que “Deus é amigo do homem e quer a sua salvação. O que falta é o homem querer ser amigo de Deus”.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Tu es Petrus

Cátedra de São Pedro:
Festa que celebra o Papado enquanto Cátedra infalível que dirige o mundo
Plínio Correa de Oliveira





Os senhores sabem que Pio IX, um grande Papa do qual temos uma relíquia indireta, — um pedaço de seu caixão mortuário, — e cujo processo de canonização está introduzido [ foi beatificado por S.S. João Paulo II em 3 de setembro de 2000 ], teve um primeiro período de seu governo considerado liberal. Não que ele tivesse defendido algum erro doutrinário do liberalismo em seus documentos, mas tomou uma série de medidas tidas como liberais (*).
De tal maneira que na Itália daquele tempo, — dividida pitoresca, proveitosa e eficientemente em pequenos reinos, principados e cidades livres, — que pendia para a unificação, os independentistas  que queriam unificar a Itália, davam um brado revolucionário pelas ruas para ligar e atrair a uma ação comum os anarquistas e os afilhados da seita de Mazzini: “Viva Pio IX!".


Este brado recrutava nas ruas a fina flor dos lazzarones, dos sem vergonha, dos revolucionários, da máfia, da camorra e de tudo o mais que queiram, na luta contra aqueles pequenos tronos cujo desaparecimento hoje lamentamos.
Nessa situação difícil, em que um Papa era transformado em símbolo da Revolução, vivia o grande santo D. Bosco. Nos colégios de D. Bosco penetrava também o brado “Viva Pio IX”. E um ou outro desses alunos, que os senhores podem imaginar de que jeito eram, gritavam “Viva Pio IX” no meio do recreio. O brado de revolta.
Dom Bosco teve então uma atitude, que foi a seguinte: “não gritem ‘Viva Pio IX’, gritem ‘Viva o Papa’!” (**) É a saída soberanamente inteligente, porque "Viva o Papa" a gente deve gritar sempre. Isto está no processo de canonização de D. Bosco e não impediu que fosse canonizado nem que sua obra fosse abençoada pela Providência de todos os modos.
Na raiz disso está uma distinção muito importante: a distinção entre o Papa e o papado; entre a pessoa do Papa, sujeita às misérias humanas, sujeita também a erros onde não é amparado pela infalibilidade e, de outro lado, a instituição, que é inteiramente distinta da pessoa. E se é verdade que de vez em quando se grita: “viva fulano” e às vezes se cala e às vezes se chora, e sempre se reza, há um brado que se dá sempre, e este brado é "Viva o Papa"!, "Viva o Papado"!
É por causa disso que a festa que vai ser celebrada hoje, a festa da Cátedra de São Pedro, é uma festa extremamente oportuna, porque ela celebra o Papa enquanto mestre, ela celebra o Papado enquanto tendo uma Cátedra infalível que se dirige ao mundo e que esta é, de fato infalível. E é portanto a infalibilidade do Papa, por assim dizer, é a ortodoxia, aquilo em que o Papado não erra nunca, que é o objeto dessa celebração de hoje.
Sabemos que da Cadeira de São Pedro conservou-se quase toda a estrutura, guardada na Igreja de São Pedro, em Roma. Na “Glória” de Bernini existe uma Cátedra de bronze, oca, que de vez em quando se abre e que contém dentro um banquinho, que é considerado como tendo sido a cadeira de São Pedro.
A festa da Cátedra de São Pedro tem em vista este objeto, mas tem, muito mais do que esse objeto, em vista o fato de Roma ser a Cátedra de São Pedro, e o fato de Nosso Senhor Jesus Cristo ter dado a São Pedro uma Cátedra infalível, e o fato dessa Cátedra governar a Santa Igreja Católica Apostólica e Romana. É, portanto, esse fato que se celebra no dia de hoje.
Na nave central da Basílica de São Pedro há uma imagem, preta, de material escuro, que representa o Papa. É São Pedro, com as chaves na mão, sentando numa cátedra e com o pé à altura dos lábios dos fiéis. E todos os peregrinos que vão a Roma passam por lá e osculam o pé de São Pedro. O resultado é que com o ósculo mil e mil vezes repetido, o pé de São Pedro está até desgastado. Acho que é o único exemplo na história em que ósculos destroem bronze.
E o bonito é que no dia da festa do Papa — parece-me que no aniversário do Papa, em todo o caso no dia de São Pedro, — essa imagem é revestida com os ornamentos pontificais. De maneira que ela tem tiara, tem tudo, fica vestida como se fosse um Papa vivo, para indicar a magnífica e evidente solidariedade e continuidade que vai de São Pedro até o Papa de nossos dias.
Nós o que devemos fazer hoje? Em espírito, oscular o pé dessa imagem. Quer dizer, em espírito oscular o Papado, em espírito oscular esse princípio de sabedoria, de infalibilidade da autoridade que governa  a Igreja  Católica. E, por meio de Nossa Senhora, agradecer a Nosso Senhor Jesus Cristo a instituição da infalibilidade desta Cátedra, que é propriamente a coluna do mundo; porque se não houvesse infalibilidade, o mundo estava completamente perdido, a Igreja destroçada e com ela o mundo perdido. E também o caminho para o céu. Porque os homens não encontrariam o caminho para o céu se não houvesse uma autoridade infalível para governar.
Entretanto, uma coisa que devemos lembrar é o seguinte: a fidelidade à cátedra não se confunde inteiramente e sob todos os pontos de vista com a aceitação incondicional do que faz a pessoa. Nosso Senhor Jesus Cristo faz uma distinção entre a cátedra e a pessoa. Embora o catedrático seja ele e os poderes da cátedra residam nele, nem tudo nele é cátedra, e não podemos imaginar a Igreja como ela não foi feita por Nosso Senhor Jesus Cristo. A Igreja foi feita por Nosso Senhor Jesus Cristo de maneira a ser assim. (***)
Com a cátedra ou com o catedrático? Com a cátedra, até morrer, notando sempre que a cátedra nunca está fora do catedrático. E que portanto não se pode ter uma fidelidade abstrata ao papado, que não seja fidelidade concreta ao Papa atual, em toda medida em que ele é infalível e tem o poder de governar e reger a Igreja Católica.




 (*) Para uma informação mais detalhada deste assunto ver, por ex., a matéria publicado por "Catolicismo" na edição de Janeiro de 1992, "Pio IX e Metternich".

(**) Ver "I sogni di Don Bosco", escrito por Eugenio Pilla, publicado pela editora Cantagalli, Siena, 2004, 4a. edicao, pag. 104


(***) Uma explicação mais detalhada deste ponto pode ser encontrada no livro "As CEBs... Das quais muito se fala, Pouco se conhece - a TFP as descreve como são", de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e de Gustavo Antonio Solimeo e Luiz Sérgio Solimeo, na parte I, Cap. III - A intelecção deformada do tríplice "sentire" ( "cum Romano Pontifice", "cum Episcopo", "cum Parocho").